segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que nos contam as coisas simples

Garrafa miniatura de Porto - Setembro de 1954

Tenho em mim uma nostalgia por tempos que não vivi. Repetidamente afirmo que sendo-me permitida uma viagem no tempo, escolheria, sem hesitação, o passado.

Não sei porquê. Não tenho sequer especial carinho por qualquer reacção.

No entanto, à falta de melhor, ora escuto as conversas daqueles que viram o passado ora ouço a história que determinado objecto transporta.

Hoje foi um desses dias.

Durante uma hora ouvi as aventuras de velhas personagens de Vila Real de Santo António....o Calanca, o Zé Aranha, o Guerreiro da Farmácia, os Ós, entre tantos outros.

Era no tempo em que "todos se conheciam na Vila". Quando "chegava alguém a perguntar por determinada morada, rematava-se logo perguntando quem é que se procurava....era mais fácil. Todos nos conheciamos e sabiamos onde moravam".

Sendo gratificante, sente-se que o horizonte vai fugindo com o tempo....E com ele a memória colectiva.

Adiante...

A garrafa que está nesta publicação também revelou uma pequena história.

Perguntei ao meu avô onde a comprara. Disse-me que foi quando ganhou o 2.º prémio da lotaria em 1954...10 contos de réis!

Estava em viseu no Banco Ultramarino e comemorou com um almoço com dois colegas, num restaurante que naquele dia tinha inaugurado. No primeiro andar, apenas duas mesas ocupadas. A dele e à sua frente o Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar.

Contou então que Salazar perguntou ao empregado quem eram...ao que tendo o mesmo respondido, este olhou para o meu avô e o cumprimentou.

E assim foi. E não tendo eu nenhum carinho por essa figura, não posso deixar, de olhar de forma diferente para aquela pequena garrafa que eu ignorei durante 35 anos.


O que esconderá cada objecto, cada símbolo, cada fotografia?


Às vezes, não sendo revelado em tempo, é absorvido pelo horizonte da memória viva....e perder-se-á para sempre...restando ao que o contempla apenas a imaginação.

2 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Gostei muito de ler este seu texto, está muito bonito, muito sentido, muito bem escrito.

Devia escrever mais, Pedro Horta.

Pedro Horta disse...

Obrigado. Vindo de si torna ainda maior o elogio.

Volte sempre...vai dando força.